Ricardo Nogueira Martins, Geógrafo, mestre em Geografia – Planeamento e Gestão do Território e pós-graduado em Políticas Comunitárias e Cooperação Territorial pela Universidade do Minho, 8 anos de experiência profissional, investigador e técnico de geografia no Laboratório da Paisagem.
Quais as situações mais difíceis de enfrentar nos dias de hoje na sua área profissional? E como considera que poderão ser superadas?
Podemos assumir a Geografia em duas vertentes de produção de profissionais: os que obtiveram habilitação profissional para a docência da Geografia, para o 3º ciclo do ensino básico e no ensino secundário, que promovem a educação geográfica e que têm um papel relevante e fundamental na educação para a cidadania; e os restantes graduados ligados à investigação e desenvolvimento e à prestação de serviços.
Destes últimos, ocupando lugares de destaque no poder local, nas instituições de ensino superior, nas Associações de Desenvolvimento Local, ONGs, no sector privado (consultoria estratégica e de gestão) e desta feita contribuído para a elaboração de estudos, planos e estratégias. Cada vez mais crescente também, o papel político dos geógrafos nos territórios que administram ou nas pastas governamentais que assumem.
Como necessidade a abertura da Geografia face à comunidade científica internacional e a presença nos media com uma voz atenta e fundamentada.
Das situações mais desafiadoras têm que ver com a empregabilidade dos geógrafos, o sucesso dependerá das ofertas de enriquecimento académico existente na instituição de ensino superior (estágios ainda no decorrer da licenciatura ou mestrado) ou da visão prospectiva e audácia do estudante em procurar ações de enriquecimento curricular (voluntariado, experiências internacionais de mobilidade académica, programa de estágios em vigor). Defendo, pessoalmente, a necessidade da ação individual desta última, se possível ainda antes de ingressar num provável 2º ciclo de estudos (mestrado).
Considerando a situação atual, que mudanças e implicações identifica no seu mercado de trabalho? Quais as tendências que prevê que irão marcar o futuro?
A sustentabilidade ambiental e económica poderá fazer parte do quotidiano e isto será o equivalente a facilitar ou prever o teletrabalho em futuros contratos de trabalho, minimizando as deslocações ao estritamente necessário, em caso de trabalhos em campo, podendo ser reduzidas para trabalho em casa as tarefas de produção de conteúdos. Esta tendência poderá facilitar a qualidade do produto gerado e a assumpção de outros compromissos laborais numa relação win-win.
As tendências de ação profissional serão, para mim, a formação de quadros técnicos superiores para a Gestão de Riscos e Estudos de Impacte, o Planeamento e o Desenvolvimento Local de base comunitária, o desenvolvimento Rural, a Gestão Ambiental e a Conservação da Natureza, o Planeamento Biofísico e consultoria para a produção e avaliação de projetos de cooperação territorial, ambiente e de políticas comunitárias.
Quais as competências chave (soft e hard skills) para alguém que procura trabalhar a sua Gestão Pessoal de Carreira na sua área profissional?
Sendo a Geografia uma ciência una, que abrange a vertente da geografia física e a geografia humana, enquanto profissionais devemos tentar dominar (em especial numa primeira fase da carreira, antes de envergar pela conclusão do 2º ciclo de estudos) estes dois campos, para que, à mínima oportunidade existente de prestar provas profissionais possamos ter uma boa prestação, tanto como consultor ambiental no sector privado ou em planeamento urbano na administração local, por exemplo. A isto considero não limitar hipóteses. Gradualmente e obviamente com o passar do tempo e os desafios laborais assumidos vamos construindo a nossa carreira, tendencialmente num campo específico.
O domínio de alguns mecanismos de financiamento e a gestão de projetos a financiamento nacional e comunitário nas diversas áreas que incidem diretamente no desenvolvimento territorial regional, local e rural, e noções técnicas de sustentabilidade ambiental, biogeografia e de desenvolvimento sustentável são hard skills que considero importantes atualmente na hora do profissional em geografia operacionalizar a sua visão de cidade, região e paisagem.
Por outro lado, a capacidade de escrita técnica, sucinta e descritiva para a elaboração de relatórios técnicos e o domínio dos Sistemas de Informação Geográfica para a representação de dados espaciais parece-me também importante.
Como soft skills e considerando inadmissível a procura de emprego focada somente na área principal de residência, de acordo com o panorama de empregabilidade desta área profissional, a predisposição para a mobilidade geográfica, associada à paciência, confiança, flexibilidade e comunicação são soft skills que elejo. A organização e a disponibilidade para a participação ou coordenação de tarefas multidisciplinares, igualmente. No global, a paixão pelo ambiente, pelo desenvolvimento local e pelo ordenamento territorial.
Que sugestões tem para alguém que queira seguir o seu caminho?
Não me vejo como um exemplo passível de ser replicado de seguirem o meu caminho, mas sim alguém disposto a partilhar as suas forças, as oportunidades e as suas fraquezas.
Portanto é sempre mais a partilha do “meu” exemplo. Aos aprendizes eu nunca digo, “olhem para mim sou um exemplo daqueles”, pelo contrário, conto a minha experiência, onde falhei e onde (creio que) vinguei e pergunto se lhes faz sentido, se retiram algo de útil.
Acima de tudo, existe uma obrigação fundamental que tento transmitir dentro dos constrangimentos sociais e geográficos de cada estudante: o de cumprir o ensino obrigatório com o máximo de sucesso possível acompanhado da possibilidade de fazerem tudo o resto a que têm direito. De igual peso e medida, o conhecimento por via da educação, da leitura e da inata curiosidade por aquilo que nos rodeia é a maior arma que dispõem para fazerem escolhas futuras e exercerem os seus direitos de cidadania. Transversal a qualquer área é o dever de arriscar muito e abraçar as oportunidades daí obtidas.